Irmão
mata irmão num fratricídio generalizado, eu nunca pensei que seria assim, irmão
roubando irmão, eu nunca imaginei isso, a ambição destruindo nações, a fome
como herança, o erro é o certo e o acerto está errado, a violência é a regra e
a regra é violenta, sem caminho, caminham hordas, legiões se perdem no caminho
que é só caminhar, se engasgam com palavras fáceis, mentem para dizer verdades,
mulheres e homens em mistura heterogênea, as serras mudam de lugar e as
florestas deixam seus espaços, não ouso imaginar futuro, se o passado já está
comprometido e o presente é ausente de sentimentos, se os tanques de guerra
rugem mais forte que o sibilar dos ventos da paz, ah! eu não podia imaginar que
o dia da criação fosse o dia da sentença de morte, são os meus filhos que já
não me obedecem, as águas que já não correm para o mar e nem o mar é a síntese
dos encontros, são montanhas em desalinho, são passarinhos que já não voam, não
há o canto dos sabiás, nem o baile dos colibris, ah! no dia da criação não
havia a fumaça que turva a vista e mata a vida como bem maior, ah! a filosofia,
prima irmã da poesia da existência é moribunda, todo consciente existe, mas
falta a prática da consciência, tudo parece não ter mais nexo, errou quem criou
o trono da criação, o mundo, o universo, as estrelas, o sol e a lua, a cama, a
piedade nua, errou! Errou a lógica, a mágica da ilusão, da esperteza, se perdeu
na construção, errou na argamassa, tudo aconteceu quando num instante de
distração abaixei-me para amarrar o cadarço do sapato, hoje estou aqui senhor
analista, cheio da culpa da vida, do peso da cruz e do remorso do tempo que foi
cúmplice e vilão e todos acharam que as regras estavam erradas e mudaram sem
permissão e quem foi piedoso, hoje dispensa a piedade. Ah! Esqueci-me de dizer
meu nome: DEUS!
SÉRGIO SOUZA
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