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27 de set. de 2014

Jornadas

Conhecedor que sou de mim
nunca deixei de me dizer
o que desconheço na minha alma.
As novidades interiores
guardadas no canto desta sala
me apresentam novos sabores.
Devoro-os ávido,
engulo-os rápido,
e por fim a garganta me entala.
Solto em meu firmamento,
firmo-me ao meu momento;
prendo-me à liberdade
que me escraviza dentro de mim.
Tenho saudade do que fui,
mas tenho vontade do devir.
Sou o agora,
sou diferente
do que fui outrora.
A minha hora
não é a de antigamente.
É que o que se sente
não se demora,
e tão de repente
vai-se embora.
E eu fico na saudade de mim,
com vontade de mim,
vivendo em alguém que penso ser.
Pulo o muro,
deslizo,
me seguro,
não sei aonde piso,
caminho,
está tudo escuro.
Sozinho
sinto o perfume puro
da terra fértil e molhada
onde nova semente será plantada.
Um dia após o outro,
e eu já não sou o mesmo.
Navego pelo mar,
viajo pelo ar,
fecho os olhos
e passeio pelo meu lar.
Ardo por dentro,
mas estou quieto,
chego a algum lugar
com o coração no centro;
perdi-me: hei eu de voltar?
Mergulho breu a dentro,
acendo-me de minha luz:
é na parte mais escura que eu entro,
é o desconhecido que me seduz.
Nunca desisti de me encontrar,
nunca desisti de me perder:
perco-me para me achar,
acho-me para me ser.

GUI RODRIGUES

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