"Perder-se
assim pouco a pouco, sim, quase desvanecer da realidade, pode ser saudável ou
doentio."
Abriu
seus olhos estirada sobre a cama. Foi caindo em si depois de uma madrugada
repleta das mais nefastas sonharadas. Espreguiçou-se lascivamente e guaiou como
que prevendo já todos os acontecimentos do dia. Tão cedinho Maria observava
pela janela a natureza urbanizada em veemência ao sol que nascia majestoso.
Tanto gostaria de estar dormindo ainda em sono profundo, de dormir
perpetuamente indo passear pelos remotos campos oníricos, onde flutuar e
somente flutuar nada tinha de inconcebível. Vestiu seu vestido de pano leve,
bem macio, o qual se aconchegava perfeitamente naquele corpo tão formoso. Eu
amava vê-la dentro daquele vestido, combinando suas cores com a pele macia e
fresca da nossa querida Maria. Os cabelos negros escorridos pelas costas como
um rio de forte correnteza se esparramavam até próximo à cintura; e os olhos?
Ah os olhos dela! Crê, caro leitor, que tão difícil é para este modesto
narrador de precários vocabulários detalhar em suas plenas formosuras aquelas
esferas luminosas. Não me vem palavra que melhor expresse os olhos de Maria
senão inefável. Não se podia encará-la diretamente neles, pois decerto o
contemplador teria invadida sua alma. Nossa menina não olhava as paredes
exteriores do corpo, mas adentrava – e com que habilidade! – os interiores da
muralha que cada um constrói em torno de si mesmo, tão inútil diante dos passos
silenciosos que os doces pés bailarinos de Maria sabiam tecer. Talvez tenha
sido esse dom que ela possuía que a tenha levado a fazer o que fez.
Mas
não te apresses bom leitor, tampouco eu devo me apressar, pois antes que eu
narre o destino da nossa protagonista tenho em mente descrever parte do cenário
do qual Maria fazia parte. E devo fazê-lo do modo mais desacelerado que me
cabe, para que tires tuas próprias conclusões sobre as ideias que circundavam a
mente daquele anjo chamado Maria.
Morava
essa menina numa casa bem simples, numa edícula, na verdade, ao fundo de uma
casa onde não morava ninguém, pois esta casa de casa não se tratava, mas apenas
de ruínas do que um dia fora uma casa. Todos no bairro conheciam a garota Maria,
e também todos somente a conheciam de vista. Víamos passá-la de um lado para o
outro, saindo de sua casa e voltando uma porção de vezes num só dia. Ah, que
donzela! Não somente sua graça atraía os olhares, principalmente dos rapazes,
mas também o seu espírito. Era mútua a admiração, o contentamento ao vê-la,
embora ninguém a dirigisse palavra a não ser um bom-dia aqui e outro ali. Maria
trazia consigo uma leveza de nuvem, um caminhar suave mas distraído, um brilho
tão luzidio que às vezes críamos estar vendo uma estrela perdida do rumo de
casa e por aqui ficou, em nosso humilde planetinha. Embora fosse a jovem
bastante calada, exibindo expressões meditabundas, era demasiada educada e
serena. Tão logo via os moradores do bairro abria seu sorriso maravilhoso que
abraçava nossos espíritos. Seus lábios bem projetados, sempre úmidos, tão
rosados quanto carnudos, remetiam-nos aos de uma boneca. Mas mesmo estando
sempre bela a menina, jamais se enfeitava: sua graça era toda natural. Maria,
inclusive, não era de se ornamentar; não fosse a beleza intrínseca que trazia
consigo seria apenas uma garota comum e quiçá malcuidada. Seu perfume era
exclusivamente seu, exportado de sua pele diretamente para as nossas narinas.
Ah leitor, paciente leitor! Se soubesses como eu flutuava ao ter em meu olfato
aquela essência angelical! De todos no bairro – confesso que não entendo por
que, já que nada tenho de especial e nada podia oferecer à garota Maria a não
ser a minha ensandecida admiração –, de todos no bairro, somente eu lograva de
certa aproximação com a moça, e isto não significa que eu era próximo dela.
Certo
dia a vi sair cedinho em sua casa, logo quando Aurora fora visitar Apolo em seu
templo, e eu, curioso, passei a segui-la de longe, temendo que a menina
intuísse meus passos atrás dela. Mas era Maria que eu seguia a dona da mais
calibrada intuição e do mais sensível espírito.
Ela
desacelerou seu caminhar, que já se mostrava lento, e deixou que eu me
colocasse muito próximo dela. Pensei em voltar. Mudei de ideia. Ela se virou
parcialmente, dando de lambuja aos raios solares aquele rosto esculpido não sei
por qual divindade dos céus, enquanto de sua boca – ah formosa boca! – Fugia um
"não vens?".
Eu
me empederni. Fiquei mesmo parado na calçada, quis correr, mas em estátua eu me
havia transformado. Ela se voltou a mim, caminhou em minha direção, tomou-me o
braços em suas tenras mãos e me disse firmemente:
–
Vamos!
E
fomos não sei para onde, mas fomos.
Chegamos
a um jardinzinho o qual eu nunca vira. Era num lugar demasiado escondido, mas
lindo como pode ser um jardim, com todas as suas cores e delicadezas. Maria já
conhecia o lugar, e não me impressionou que já conhecesse, uma vez que essas
belezas naturais tanto se parecem com ela.
Creio,
amigo leitor, que minhas palavras, sempre tão belas em se tratando de Maria, e
sempre em favor dela, possam causar a impressão de uma paixão, um desejo de
minha parte pela garota, e embora não me faltem motivos para isso, desde já
faço uma mais observação do que advertência: não se trata de paixão, mas de
admiração, um sentimento unânime a todos nós do bairro. Estou sendo eu,
inclusive, uma espécie de porta-voz para todos os moradores quando narro em
imperfeitas expressões uma minúscula parte da vida daquele ser chamado Maria.
Voltando.
Nossa protagonista, depois de brincar rapidamente com algumas flores e assoprar
dentes-de-leão, foi-se sentar num banquinho improvisado abaixo duma tremenda e
cascuda árvore centenária, com galhos enormes e grossos. Senti que ali era seu
espaço. Eu não me atrevia a pronunciar palavra, e Maria percebendo, fitou-me a
alma com aqueles poderosos olhos enormes de tal modo que creio ter sentido em
seu corpo meu acelerado ritmo cardíaco, pois ela me invadia. Sei, meu bom
leitor, que muito já falei sobre os olhos da jovem Maria, porém não me contenho
e me é preciso dizê-lo novamente, uma vez que minha intenção é a de que o
leitor esteja o mais próximo possível da realidade daquelas esferas
inebriantes, mesmo sabendo que o mais sábio e intelectual homem, dono do mais
preciso vocabulário e da veia mais poética, nem mesmo esse homem, eu dizia,
descreveria com exatidão aqueles olhos: eles eram pincelados com as mais belas
resplandecências, lubrificados com a essência dos astros, tingidos com as cores
das estrelas. Fiquei hipnotizado, não estaria eu exagerando se dissesse que
seria capaz de contemplar durante todo o dia seus olhos de aconchego; e faço um
lembrete: não somente eu, mas qualquer um que os contemplasse, perder-se-ia nas
delícias daquele olhar encantador. Seu hálito, por meio da respiração serena,
colidia com meu rosto, e seu perfume me penetrava o espírito. Minhas pálpebras
pesaram subitamente e eu me vi obrigado a fechar os olhos: delirei na presença
da moça. Maria era mesmo fascinante.
Mas
é de perto que podemos ver melhor as coisas desta vida. Quantas vezes, amigo
leitor, não criamos uma ideia acerca de algo longínquo e depois, tão próximo,
percebemos o quanto nos equivocamos? Tudo de longe é sempre tão distinto do que
verdadeiramente é.
Esta
proximidade fez-me ver mais do que a formosura de Maria: vi em suas retinas uma
lassidão estampada que somente próximo como eu estava se podia ver. Ouvi
sufocado por aquele brilho o qual emanava a linda moça um grito de desespero.
Senti em suas retinas uma angústia guardada, adiada, um sangue de alma que se
escorria naquele rosto bem esculpido todas as noites em forma de lágrima; uma
busca por algo que a fizesse esquecer o que nunca pensou. Entendi que a moça
pedia socorro por traz daquela máscara involuntária. E, sobretudo senti a
iminência duma tragédia que ela mesma poderia se causar de suas próprias mãos.
Agora
não mais me fitava aquelas duas esferas penetrantes de alma, voltaram-se para o
chão substituindo bruscamente o aspecto jovial de seu rosto por uma aparência
friamente lúgubre. Nós moradores já havíamos percebido que, contudo, Maria
tinha uma certa tristeza, mas era uma tristeza quase imperceptível, e quando se
fazia perceber o fazia de modo sereno. No entanto, fitando seus olhos, notei
uma angústia de desespero, um não poder conter a própria tragédia dissimulada
em máscaras sorridentes.
Ainda
com o olhar ao chão, ergueu um pouco a cabeça suspirando levemente.
–
Belo jardim, não achas? –Perguntou-me quebrando o gelo.
Aliás, sua voz era
correspondente a tudo o que era Maria; não falava: cantava aos ouvidos.
–
Belíssimo! – respondi – Nunca vi mais formoso.
–
Sou eu quem cuida dele: venho aqui, planto, reflito, durmo, águo minhas flores,
beijo-as, entorpeço-me de seus perfumes e converso com a natureza. Deito sobre
a grama e observo o firmamento, conto estrelas e em seguida as reconto, subo na
árvore e me delicio em seus frutos. Aqui estou em casa, e aqui venho para ser
minha heroína.
Essas
últimas palavras soaram totalmente obscuras, e me fizeram meditar um pouco
antes de observar por inteiro todo aquele jardim com os cuidados das mãos de
Maria. Mas não te alarmes, meu bom e paciente leitor, pois as palavras
sobremaneira misteriosas se explicarão a seguir, com o complemento da jovem
moça:
–
Busco aqui a salvação da minha vida, neste jardim salvo-me todos os dias. Por
acaso sabes o que é andar a todo tempo como um trapezista, onde qualquer
descuido, o mais diminuto desequilíbrio que seja, pode dar fim à sua vida? Pois
aqui está uma confissão, meu bom rapaz: eu interrompo minha morte todos os
dias, fujo dela, mas cada vez mais me canso, e cada vez mais ela aprende a
retomar o fôlego se aproximando de mim a cada passada. Será que estou a adiar o
inevitável? Este jardim é meu templo, estando aqui esqueço o mundo, e vivo aqui
como se tudo aqui não fosse parte do mundo lá fora. Minhas diásporas têm como
destino este lugar, é aqui que eu preciso estar para aliviar os pensamentos
funestos. É engraçada... foge-se para viver ou para não morrer? Pode ser
perigoso se concentrar sempre em determinadas ideias. Entretanto não há equívoco
em dizer que algumas ideias, a princípio, nos parecem pavoroso, horripilante,
inconcebível, mas é certo que o tempo se encarrega de amadurecê-las na mente.
Quando um infeliz dá cabo da própria vida, aquilo já é tão natural para ele
quanto o nascer das flores na primavera ou o cair das folhas no outono. Quanto
a mim, é a arte de procrastinar que ainda me faz respirar; eu deito e durmo,
esperando um bom motivo para ainda viver, e o encontro em coisas miúdas, sem
face: em meu jardim, pelo menos por ora, estou em segurança. Todavia, levanto e
vivo meu dia esperando a hora de dormir, para talvez, por boa sorte, nunca mais
vir a abrir os olhos e não ter que sujar minhas mãos com meu próprio sangue.
Tenho leves epifanias de felicidade, no entanto meu estado natural é a
tristeza. O único motivo, amigo, pelo qual ainda vivo é porque, como em tudo na
minha vida, tenho o hábito de deixar para depois.
Eu
pasmei diante daquelas profundas e honestas alegações. Quem diria? A tão
graciosa Maria, um anjo que Deus, por descuido, deixou-se escapar de seus dedos,
o ser mais formoso que a natureza pôde desenhar uma obra-prima dos mais hábeis
artífices da beleza, a Maria, dona da simpatia de todos, mergulhada em tal
desalento, logo ela que demonstrava a leveza dum floco de neve e o frescor duma
brisa de verão.
Eu,
mantendo-me ainda pasmo, escondi minha surpresa e fitei-a ternamente. Ela se
ergueu, eu a imitei, e sem dizermos palavra, saímos do jardim.
Surpreendes-te,
bom leitor? Pois assim as coisas são: nem sempre o sentimento exprimido no
rosto expressa o caos interior. Sigamos com a narração, pois também eu anseio
concluir a história de Maria.
Naquele
mesmo dia, à noite, a garota buscou em sua casa um objeto fatal, um instrumento
tão mortífero quanto inofensivo, dependendo apenas da mão que o manuseia para
se classificar em algum desses dois adjetivos. Seu coração bombeava tranquilo,
mas ao passo que se aproximava de seu destino ele se acelerava, esquentando e
fazendo borbulhar o sangue por todo o corpo. Maria estava certa do que faria,
porque aquela ideia já fora plantada há muito tempo, não sendo apenas uma
semente, mas uma árvore bem crescida e madura. E embora a jovem se esforçasse
para impedi-la de crescer, cada vez mais a árvore ganhava terreno em seus
pensamentos, de modo que suas raízes tomassem a proporção de todo o vasto campo
interior, ocupando por completo o espaço e logrando hegemonia na mente da
garota.
Não
derramou sequer uma lágrima, tão resignada que estava. Somente caminhou rumo ao
jardim, como todos os dias fazia, e teve a frieza de, seu costume, observar e
amar cada detalhe com o qual se deparava no caminho. Chegando ao seu destino,
ainda deitou um pouco em meio às flores, fazendo-se também parte delas, e
conversaram como boas amigas por um tempo. Suspirando, alternando inquietação
com calmaria, perdeu-se na negrura celestial da noite e nos pontinhos
reluzentes a brilhar.
Então
se levantou. Sacou uma caneta e um bloco de notas e escreveu um bilhete, o qual
foi pregar no tronco da gigantesca árvore.
Gostaria de viver, mas não daquele jeito. Sonhou bastante durante a
vida, e ninguém poderá dizer que Maria não a tenha aproveitado, pois, sendo a
vida um sonho, viver é sonhar. Tomou em suas mãos – ó macias e pequenas mãos! –
aquele objeto que a ajudaria a partir e o amarrou bem firme num dos grossos troncos
da árvore centenária prostrada naquele jardim esplêndido, fruto dos delicados
ornamentos da nossa menina. A corda ficou lá, esperando o fino pescocinho de
Maria ser perpassado por ela, pescoço esse tão frágil a ser estrangulado. A
garota subiu no banquinho improvisado, fez um ajuste no nó e na altura da corda
para que tudo saísse como planejado – como a tanto tempo planejado –, e o fez
de modo tão perfeito que uma vez concebido o ato não lhe restasse salvação caso
a acometesse um suposto arrependimento; posicionou-se diante do objeto, forçou
os doces pés bailarinos fazendo-se sustentar apenas com as pontas deles, para
que alcançasse o buraco da corda e passasse por ele sua cabeça. Feito isso,
apertou o nó. Começou a forçar o banquinho de um lado para o outro, para que
pudesse se ver pendurada e depois de alguns instantes ter-se morta.
Caiu
o banco, mas a corda no pescoço não permitiu que também seu corpo caísse, e não
demorou muito para que aqueles tão belos e penetrantes olhos se inundassem em
lágrimas frias como uma madrugada de inverno. Enquanto agonizava, não se
debateu sequer um instante, apenas babava e lançava ao ar sons guturais de
estrangulamento; a natureza que ela tanto observou, agora a testemunhava
morrer. A corda apertava seu pescoço e tingia cada vez mais de roxo o rosto tão
bem esculpido pelos anjos.
Cessou
sua respiração, enfim; findara-se a curta vida de Maria. O corpo quedava-se
quente, pendurado, mas ali não havia vida, só havia algo que não tardaria em
desvanecer sua quentura dando espaço à frieza dum corpo cadavérico. Maria
tinha-se ido, partiu em viagem para nunca mais voltar.
Recordo-me
de, no outro dia, logo pela manhã que surgira nublada, por-me a procurar Maria,
rumando o seu lindo jardim. Com firmamento cinzento e lúgubre – como se de luto
estivesse – por sobre a cabeça deste precário narrador, busquei-o pelas
redondezas e tive muitas dificuldades em encontrá-lo. Andei, hesitei, dei meia
volta: perdi-me. No entanto, estando eu quase desistindo da ideia de procurar o
jardim, tive um lampejo, e repentinamente lembrei-me da trajetória que Maria e
eu fizemos no dia anterior para entrar naquele agradável espacinho onde a moça
falara-me como quem confessa as inquietudes de toda uma vida.
Então
fui. Adentrando ao jardim procurei logo com os olhos a garota. Não encontrei
tampouco vi algo fora do normal, exceto por uma silhueta flutuando abaixo de um
dos galhos da grande árvore: era Maria. Aproximei-me. Ó desafortunada Maria!
Como estava frio seu semblante! A pele toda dura e gelada, o rosto pálido e os
lábios, úmidos de outrora, ressecados e pincelados de um pavoroso roxo natural;
os cabelos abrigando ainda o sereno da noite. Que agonia vê-la tal como a vi,
com aquela corda no pescoço, sustentando cada quilo de seu gracioso e delicado
corpo. Ah Maria, pobre Maria! Por quê?
Submerso
no meu assombro, demorei para notar uma carta pregada no tronco da árvore,
contendo grafia impecável, com letras bem alinhadas e redondas. Decerto era de
Maria, impossível não sê-lo. Quão belas palavras ela nos havia deixado!
Então,
caro leitor, é com as alegações de próprio punho da menina Maria que concluo
esta triste e parca narrativa, deixando registrados os desalentos daquele anjo
que talvez somente agora esteja no lugar onde todos os anjos devem ficar.
Aprendamos, portanto, não apenas com nossas próprias experiências, mas também
com as experiências de outrens.
"Aqui
vou ficando, pois de mais nada me vale esta vida, se é que me valeu. Tanto
tempo adiei o fim que a mim me causaria concentrando meus pensamentos em outras
coisas que não eu. Tive sempre em mim desejos inéditos na raça humana, e nunca
hei de realizá-los, já que nem mesma eu sei ou entendo o que desejo. Não se
pode querer para si todas as estrelas, não é mesmo?
Que
não me chorem o corpo – e tenho eu alguém a quem o chore? –, pois o corpo
faz-se cadáver, e sem vida é somente a carne que de mais nada serve senão para
alimento dos vermes. E, sobretudo que compreendam não ter sido de minha autoria
este suicídio, uma vez que é inconcebível matar o que já é morto. Contudo, a
culpa é inteiramente minha, já que todos somos culpados, mas não sabemos
reconhecê-lo. Eu, que nunca cheguei, estou indo embora. Vivi, senti, e agora me
ponho a morrer, não por enforcar-me neste dia nublado, mas por aceitar a morte
que me veio muito tempo antes de eu me tornar uma fria carne cadavérica.
"P.S: Escrevo do
meu próprio sangue – não do sangue do corpo: do sangue da alma que
involuntariamente me transborda – estas sinceras palavras, no intuito de que,
se possivelmente vir a lê-las um hipotético leitor, compreenda que as nocivas e
verdadeiras hemorragias da alma o ser humano não pode ver com os olhos."
GUILHERME RODRIGUES
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