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24 de out. de 2014

TRAJETOS E DESTINOS


    Céu avermelhado, paisagem seca, mandacaru por companhia, no horizonte um pouco de esperança, no destino esta bitola natural serpenteando o quase nada, respiro fundo uma gota d´água e sigo em frente enfrentando o sol, a morte, a solidão e a vontade e no meu matulão uma vontade de chegar para morrer onde a vida existe, onde, se o perigo persiste, Deus espelhou o céu.

    Ouvi falar, muito ao de leve, sobre outros companheiros por esse mundão imenso de meu Deus, amigos que correm trás-os-montes, que se enchem para dar vida aos lados ressequidos, amigos que até estão na história dos homens e de Cristo (louvado seja), amigos que nascem no estrangeiro feios e finos e viram mar em terras brasilis, falando assim e olhando para esse mundão de terra para velejar, vou me sentindo um desbravador, um conquistador, como um tal Cabral, tão Cabral como aquele que me disse sem plumas e me chamou de cão, tão andarilho como aquele Severino de tão severa vida, que morreu antes mesmo de viver, de palavras tão secas quanto às vidas gracilianas, que tão secas eram graciosas gracilianices da miséria humana, e os tais cabrais tão cabras como o cabra que era Fabiano, e minha esperança é tão vitoriosa como das sinhás do sertão.

    Mas seu moço-menino é hora de parar com esse proseio todo, pois o sol não abranda e o caminho é todo um destino comprido como a saga de Antônio, o conselheiro do sertão, e meu caminho é uma enfiada tal igual um canudo de zarabatana; avisa a Rosinha, seu moço, que eu volto, quando a pedra virar lama e a secura do mandacaru virar flor, avisa lá aos fortes destas terras que uma esmola para quem é são, mata de vergonha ou vicia o cidadão, a hora é chegada, quero partir com saudade de mim, para quando lembrar do senhor, seu moço é com a lembrança de ti, vou escrevendo minha história de poço em poço, de açude em açude. Adeus seu moço, vou buscar minha vida na hora que me entregar ao misterioso, portanto ainda o enterro espere no portal que o defunto ainda respira.

    Já fiz destas veredas minha eternidade, por aqui ando e perneio todos os anos fugindo da seca nas asas brancas da esperança de um dia não fugir mais disso não, voa sanhaço, voa beija-flor; corta caatinga, corta canavial, corta sisal; dança frevo; dança maracatu, olha a casa grande e a senzala, lá vem o Bacalhau do Batata; ó linda imagem que seduz, Olinda, e como uma Maria-fumaça cortando e costurando feito agulha endoidecida fazendo união, como aquele irmão da Serra da Canastra – Vou-me encontrar com ele lá no riachão, que é o fim de tudo – daqui donde estou, já avisto um horizonte esverdeado da mata da zona, o vento parece já ter frescor e o volume vai se aumentando, arrastando terra, abraçando as pedras; por entre sons e jaqueiras, crianças molhadas, mulheres lavadeiras, roupas nos varais de cordéis, vitalinos, mestres santeiros, lampiões caolhos e marias bonitas (mulheres damas), vou despencar..., lá vem usina; olhe lá, seu moço, que tanto de perna é aquele no meu caminho? Não é perna não, seu moço, é palafita é gente que mora em cima de mim, puxa o guaiamu, retira o peixe, lá vem sujeira, sai da frente, seu mestre, lá vem besteira em turbilhão molhando a esperança de um dia não esperar por mais nada não; corta rua, corta ponte, corta o holandês, corta a Rua da União, onde desfraldam bandeiras e jogam feijão queimado na casa onde dormem a tristeza e a alegria de Totônio Rodrigues.

    Vejo já bem perto o azul do azul que se mistura nesta massa nem verde nem azul e é para lá que eu caminho, é lá quero me misturar com aquele irmão de nome de santo, São Chico dos Necessitados, que me traga um gosto de piqui, e lá quero rever o irmão do norte cheio de verde-mata que mata de orgulho quem vem da caatinga rala, podem chamar os carregadores que o defunto quer ir embora, avisa lá que eu vou sublimar um dia e voltarei para de novo fertilizar a as pedras com meu suor, adeus mestres carpinas, adeus coveiros de Santo Amaro e Casa Amarela, adeus Recife belo, adeus Recife triste como a casa do meu...avô.

   Enterrem as minhas lembranças á sombra do umbuzeiro e escrevam na pedra da lama – Capibaribe!


SÉRGIO SOUZA

É POETA...



É POETA, 
CÁ ESTOU OUTRA VEZ COM O DEDO NO TECLADO
MAS TAMBÉM NÃO SOU MAIS O QUE JÁ FUI
SEM A COMPREENSÃO DO QUE SEJA DAR OU DOAR
E SEM ENTENDER O QUE JÁ SE CUROU, TALVEZ POR CONSTRUÇÃO CONFUSA.

É POETA, 
CÁ ESTOU DE NOVO COM O DEDO NO TECLADO
COM A MÃO NO PENSAMENTO E OS FATOS QUE ME CIRCUNDAM
SURDO PARA AS FUTILIDADES, E MA PARA AS INUTILIDADES, E PARA AS VERDADES
CEGO PARA O QUE NÃO QUERO VER, INEXISTENTE PARA OS GRITOS Á MINHA VOLTA.

É POETA, 
CÁ ESTOU PENSANDO OUTRA VEZ NAQUILO QUE UM DIA FOI VOZ GRITADA
DENTRO OU FORA DO SER, 
É POETA, ESTOU AQUI COMO SEMPRE ESTIVE PENSANDO NOS ECOS E VERDADES
E NAS MENTIRAS QUE DISSE A MIM MESMO, DOS ENGANOS QUE NOS ENGANAM

É POETA, 
NEM SEMPRE O CANTO DA SEREIA É VERDADEIRO, 
CABE AO PESCADOR DESCOBRIR QUE AS ÁGUAS NEM SEMPRE SÃO TRANQUILAS.

É POETA, 
CÁ ESTOU DE NOVO COM O DEDO NA FERIDA, VIDA.
SONHADA, VIVIDA, SOFRIDA, COM TODAS AS RIMAS, MAS COM SUAS MANIAS
SEUS MEDOS E AFAGOS, ESQUECEMOS DESTES E NOS CEGAMOS NO SANGUE
QUE NOS IMPUSERAM.

É POETA,
A VIDA, DIZ O POETA, "É A ARTE DO ENCONTRO, EMBORA HAJA MUITOS DESENCONTROS PELA VIDA!"

É POETA, 

MANDARAM -ME VIVER, MAS ESQUECERAM DE ME ENSINAR A SORRIR PLENAMENTE, ENTÃO LEVA-SE A VIDA E OS FATOS, OS FARDOS COM O RISO FALSO DA ALEGRIA.
CAMBALEANDO E SE ESQUECENDO, 
UM DIA MARIA OU DIA JOÃO.


SÉRGIO SOUZA

12 de out. de 2014

AMORIZADE


Um dia, um instante, olhares, corações,
Vontades de praias, e bosques, ilusões,
Na tarde noite, no dia manhã,
Caminhos e Luas, Sois e Ruas
Sem palavras, sem escritas,
Mãos unidas bem ditas
Interiores a credita, nuvens e chuvas.

Um é Sol outro a Lua,
Outro Caminho, um Rua,
Um sorriso, outro lágrima,
Outro Paz, um Paixão,
Um verso, outro Poesia,
Outro Noite, Um Dia,
Assim segue a sinfonia da vida
Criação divina que nos convida,
Instiga a criação e a conquista,
Fazendo marionetes ilustres do prazer de respirar.

Quando tudo vira um só contexto
As vidas viram tema e bandeiras e pessoas,
Um é linha, outro caneta,
Outro pretexto, um Papel,
Um ponto e vírgula, outro Texto.

SÉRGIO SOUZA



TRILHA


Uma chuva, um sorriso, uma avenida, 
Um afeto, as mãos, união da vida,
Um natal, uma foto, uma Paulista,
Os olhares, o espanto, olhar, a vista.

Um café, uma esquina, volta e ida,
A troca, o livro, escolhas, a medida,
A gula, a vontade, o desejo, uma conquista,
O universo, um instante, um beijo, asfalto, pista.

O inicio do trajeto, mistério e corações,
A selva armada é cenário de sentimentos livres,
A eternidade é logo ali nos palco das emoções

A realidade dupla que o mundo esconde no timbre
Uma poesia no desejo oculto é caminho das ilusões
Uma música, um querer mais, uma saudade, corações.


SÉRGIO SOUZA

9 de out. de 2014

MEANDROS



Amizade? ...................................Tudo!
Carinho?......................................Necessário!
Saudade?......................................Dor!
Medo?..........................................Perder quem ama!
Sonho?.........................................Imprevisível!
Futuro?.........................................Ruim, incertezas!
Decepção?....................................Ficar sozinho?
Tristeza?.......................................Ficar sozinho?
Alegria?........................................Amigos!
Uma palavra?...............................UNIÃO!
Um sorriso?..................................Verdadeiro!
Um olhar?.....................................Sincero!
Um abraço?...................................Apertado!
Prazer?..........................................Incontrolável!
Conquista?....................................Vida independente!
Popularidade?................................Não é tudo!
Amor?............................................Um sentimento lindo!
Sinceridade?...................................Necessária!
Solidão?..........................................Desespero!

Por mais palavras que diga,
Por mais terras que percorra
Não há verdade mais sincera que a mentira,
Nem necessidade tão inutil quanto a solidão,
Conquista mais breve  que o prazer,
Ou um sentimento mais lindo
Que a conquista de um amor;
Entre meio o desespero da solidão.

Por mais decepção que sofra,
Por mais sozinho que a tristeza me deixe
A união das mãos e dos lábios e dos corpos
Ainda será a  única forma de salvar a humanidade.

 Tem horas que me perco sem você aqui..........Minha sanidade!

SÉRGIO SOUZA

SEM INSPIRAÇÃO OU ABRINDO O ZIPER



Será que a eternidade também sofreu ou sofre da crise de criatividade?
Será que a vida também sofre a crise de inspiração?
Se são as perguntas que giram a roda da existência, eis ai duas para as quais não se encontrou resposta, nem na realidade, nem na virtualidade, verdade é, que a alma se perde e se acha num jogo estranho de nunca perder ou ganhar, vivendo num empate constante; já cansei de esperar, de pensar ou lutar por tudo o quanto desejo, mesmo sabendo que o ensejo a nada se destina, por mais ou melhor que se aproxima, fiz versos, poemas, perdidos neste gosto, neste dilema, no sonho de cada um, no seu sonho; que dorme por outros olhos, enquanto os meus se opacam nas lágrimas da solidão, de  há muito, tenho a vontade de me deixar de mim mesmo, faltou coragem; pois mesmo sendo minha sorte vadiagem, sobra esperança e letras para contar saudade de ti que brota dos olhos ou de outros pontos extremos das mãos ou dos olhos distantes, ou nos pés por muito que caminhado tenha por te encontrar e outros tantos por te perder.
Será que a eternidade também perdeu a luz da sensibilidade e deixou de criar o tema da vida que uns chamam de amor, outros de sedução? Embora o importante seja o coração, mesmo que os destinos sejam outros caminhos, mas que um dia se encontrou, mas destino cruel, fel do organismo da vida, separa, por interesses diversos, perdidos sem versos na poesia das salivas, na boca sem riso, dos lábios de vontade, chora necessidade, caminha valente-covarde Quixote- Pixote seus passos em busca de seus muitos paços sem limites, por muito que o outro imites seus moinhos de ventos são tantos, mas sem Dulcinéias ou Doroteus, pois seus cantos se perderam no tempo esquecidos nos cantos e recantos da vida.
Viva a solidão dos indefesos e a pobreza da nobreza dos sabem muito, a hora aflitamente angustiante dos gênios, daqueles que sabem a razão, mas não explicam o sentido, verdade é que perdi a inspiração, perdi nos olhos de um anjo, no som  de um banjo, numa rima mau estruturada, perdi o presente com medo do passado e sem acreditar no futuro, perdi na dúvida incerta que é a única certeza, talvez tenha ficado nas areias das praias ou no asfalto de uma estrada distante, ou na devoção de uma lida insólita.
Reverencie, poesia, as vítimas da fome de vida e sentimento; os desabrigados dos tufões e terremotos e os desvalidos da sorte; na espera da morte; sorria a alegria triste do homens do mundo-Raimundo, meio rima, meio solução; somos massa da mesma lama, sonhando com a mesma cama ou fama única de um só fã, o reconhecimento; ensina professor a lição que você mesmo esqueceu, aprenda o que esqueceu na poeira da estrada.
Apesar dos pesares o peito ainda acredita, o cérebro medita, as mãos buscam, todos buscam eu a você, e mesmo que em dúvida você também busca, um caminho, uma mão, um peito, um respirar de sua essência, porque a vida a pesar dos pesares vale a pena, mesmo sem destino, mesmo sem carinho, mesmo esperando a morte que se vive um pouco por dia, mesmo sem homenagem ou feriado.

SÉRGIO SOUZA

RISCO E RABISCO



Deixei que a mão da poesia rabiscasse um poema,
Que contivesse o cheiro das terras molhadas do interior,
Que esquecesse os crepúsculos nostálgicos, àquela hora do nada,
Hora aberta do não ser dia e nem noite.
Mas que contivesse a esperteza da beleza safada dos neurastênicos do litoral,
Que não fosse invasivo, mas verdadeiro, que não esquecesse a certeza das ruas,
A libido dos alegres alheios aos tormentos dos que fecundam o sentimento.

Deixei, sem medo, que a mão da poesia rabiscasse um poema,
Que não falasse dos dilemas e incoerências e demência,
Mas que fosse livre das liberdades estabelecidas, das forças ocultas,
Das psicologias e dos divãs das manhas e manhãs sem maçãs,
Cujas palavras não tivesse recado, mas a maravilha da consciência,
Que não mencionasse a História ou Geografia,
Mas a ilusão poética e patética dos soltos ares
Dos versos de Moraes.

Uma poesia que não tivesse data ou dia
Nem João, nem Maria de açoite,
Nem tarde ou noite, só uma poesia...
Sem batucadas das madrugadas,
Ritmo ou cadência,
Que desprezasse a indecência da chegada ou da partida.

Encomendei á mão da poesia um poema,

Só um poema, sem eu ou você, mas todos nós,
Com todos os nós que empatam o jogo das verdades,
Com cheiro de poeira de estrada e a maresia da secas sertanejas,
Que tivesse o esquecimento da lembrança,
Um toque de adulta-criança, o adultério das confidências,
Nem popular, nem erudito, só palavras,
Ao léu, ao vento, sem saudade, sem verdade, sem mentira,
Só o passo do compasso de quem anda sem sair do lugar,
De quem corre para não chegar.

A mão da poesia escreveu um verso que fosse tão somente um laço,
E deixou, para que nunca chegou, porque nunca partiu,

Aquele abraço!

SÉRGIO SOUZA

ESTRELA DE PAPEL



Por mais que falte a inspiração
Não falta o coração-sentimento
Um instante ilusão, outro inquietação
Vem do mar a vontade,

Vem da rua a coragem,
Um momento de olhar estelar
Uma mão que se sustenta
A única luz que esquenta,
São bocas sussurrantes.

Por mais que falte a inspiração
O Sol abraça o dia
A Lua invade o mar
Na onda que se anuncia
Navegantes da ousadia
Transeuntes de uma só rua
A estrela de papel domina o céu
Num desejo e vontade sua
Misto de ensejo e delírio seu.

SÉRGIO SOUZA

ASSOVIO




Quem me pariu foi a savana,
No fundo do mundo sem cor,
Com a marca do sol e a força da dor,
Para pensar no momento,
Para ser o instante da flor,
Mistura dourada dos rios
Sentido único e frio.

Quem me criou foram as águas
Nascentes de sonhos e mágoas,
Torrente de criações e vida.

Quem me nomeou foi o destino,
No vale das vontades e desejos
Ensejos e liberdades, quem me guiou foram as feras,
Por montes, vales e fendas das eras.

Portanto quem hoje manda no meu caminho
É a certeza, filha da mãe das rochas.
Irmã da luta, prima da labuta,
E quem no sentido se perdeu,
E quem comigo não “veredeou”, não sabe o que é ter,
Conhecer o sol por norteada e ter a lua como camarada,
E as classes na forma verdadeiramente amada.

Quem me pariu foi o canto, na manhã clara da sorte
Quem me embalou foram as águas doces
No sobrado dourado que se ergue nas areias de minha mãe,
Quero correr correntezas, valando os vales em busca da dignidade,
Dos que constroem e não habitam.

Quero ser a liberdade do cativeiro, dos disfarçados negreiros.
Vou aprender a ler, para ensinar os meus camaradas.

SERGIO SOUZA