Sou triste,
profundamente triste.
Não tenho razões ou motivos para sê-lo,
só sou triste;
nada mais.
Eu não sou feliz
e não sei por quê.
Tudo o que de melhor eu fiz,
eu fiz sem fazer.
Nasci, cresci,
e agora estou aqui.
Fui indo, peguei a caravana da vida,
parti sem saber;
caminhei sem destino.
Não conheço o benigno,
nem o maligno,
não sei do que sou digno;
não sei nada, não sou nada,
só estou na estrada.
Estou só na estrada.
Nunca consegui o quero
de mim nada mais espero.
Apenas sonho com esmero,
com capricho,
transformo em divindade o que é bicho;
sonho alto,
sonho alto demais.
Eu salto,
não alcanço,
e nesse balanço
me degrado mais e mais.
Não nasci para realizar,
nasci para sonhar.
E sonhando eu realizo
o que nunca foi realizado.
Tudo é tão distante...
Sou um rio
sem qualquer visitante,
um rio vazio
com muita água e pouca vida,
um rio frio,
glacial, morto e sem saída.
Quando sorrio
disfarço bem a amargura,
conheço bem minha censura.
Guardo pra mim essa tristeza calma
e esse sofrimento que me perdura
e esse desabar da alma
e esse coração com rachadura.
O sentimento é uma rocha dura
que nenhuma lágrima fria fura.
Meu caminhar
tem muito mais de vagar
do que de trilhar.
Caminho devagar,
não sei aonde quero chegar...
Foi-se o amor,
ficou-se a dor,
e o ardor de um sofredor
é fazer do dissabor
a sua maior obra de valor.
Olho-me e me sorrio:
aprendi a chorar de outro jeito.
Molhado mesmo só meu leito,
e aberto mesmo só meu peito,
é que eu o esfaqueei
numa noite,
duma forma que nem mesmo eu sei.
A esperança
é a principal responsável pela minha matança.
Está escrito o epitáfio em meu rosto,
e nas minhas costas carrego a sepultura,
de pernas cansadas já não sou bem disposto,
que mais me falta para a loucura?
Estou entre o ser e o não-ser,
triste, fatigado;
não sei o que me reserva a sorte.
Já conheço a morte,
agora só me falta morrer.
GUILHERME RODRIGUES
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