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17 de nov. de 2014

QUEM ME DERA


Quem me dera
ter o mundo inteiro
pra poder correr.
Correr sem nunca me cansar,
correr até faltar o ar,
até não sentir mais as pernas;
sentir o sol me banhar,
sair da escuridão das cavernas
e não mais me penar
em angustiante claustrofobia,
e ser para mim a minha companhia,
e ter para mim todo o mundo, todo dia,
o dia todo.
Quem me dera
correr descalço,
pelos campos,
pela areia,
pela neve,
passear leve,
pelas nuvens,
pelo céu,
por algum lugar distante
onde todos tenham asas.
Quem me dera
tornar-me viajante,
largar o peso,
estar-me ileso,
de todas as toneladas,
de todas as palavras
que, sutil e brutalmente,
foram lapidadas.
Quem me dera
despir-me da gravidade
para flutuar,
flutuar em liberdade,
pelo universo,
disperso entre as estrelas.
Abraçar a leveza
e nunca mais soltar,
viajar a lugares
onde se possa voar,
onde o infinito seja o chão,
e o chão não exista;
onde o céu seja o lar.

Quem me dera
correr somente,
esquecer, fugir, sumir,
até não sentir mais a vida.
Apenas sentir
outra vida que não existe,
mas que pode existir.
GUI RODRIGUES

Um comentário:

  1. Meio melancólico, meio indeciso, meio no meio do caminho, meio certeza, meio verdade, meio obscuridade, ah! Quem me dera poder decifrar os mistérios da alma, quem me dera ter o poder Spinoza e conversar com Deusm não para recrimina-lo, mas para dizer que eu é quem não entendi nada, quem me dera ser natureza, pincel da certeza e pintar a pintura rascunho da criatura, ah! Quem me dera ser verdadeiro, ser cachoeira e desfiladeiro caindo livre como a liberdade se faz,, quem me dera ser a tragada do cigarro e virar fumaça no fim do processo, ah! Quem me dera ser garçom, entender de champignon e dizer para a aurora: bem vinda, ah! Seu pudesse ser poeta, dizer ao reverso, que o verso que sai de mim, é um começo, meio e fim, ah! Quem me dera.

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